Nova série
ano II
Novembro 2011
ISSN 2177-2673

Número
6

Editorial

 

Esse número de Opção Lacaniana online nova série oferece um presente extra aos leitores. Além da segunda parte da conferência de Jacques-Alain Miller – "Intuições milanesas II" –, temos suas colocações sobre o estabelecimento dos Seminários de Lacan na "Entrevista sobre ‘O Seminário’ com François Ansermet", tema bem atual, embora ela date de 1985.

 

Em "Intuições milanesas II", prosseguindo suas reflexões a partir da fórmula de Lacan: "o inconsciente é a política", J.-A. Miller lembra que, em psicanálise, o atraso da teoria em relação à prática é de estrutura. Tomando a definição lacaniana de estrutura como máquina que se produz na realidade e determina seus efeitos, ele acentua que tal máquina, particular a cada um, coloca em cena o sujeito da civilização atual. Em suas reflexões discute: a depreciação da psicanálise na época da globalização, os psicanalistas como doadores de atenção, as bolhas de certeza, o jeito de viver próprio a cada um como uma patologia da desorientação, inclusive em sua versão japonesa, o estilo de vida otaku, do qual aponta sinais nas Sociedades e Escolas de psicanálise. Por fim, enfatiza que, se a clínica psicanalítica clássica respondia à estrutura do todo e da sexuação masculina, na globalização a clínica responde à estrutura do não-todo, própria da sexuação feminina, tomando o sintoma como pivô para atingir, como meta, o núcleo irredutível de gozo do sinthoma do falasser.

 

Alguns dentre os demais textos vão de encontro a essa última reflexão. "Do todos iguais ao um por um", cujo viés é o da identificação, aponta que sujeitos desbussolados encontram, nas tribos urbanas, uma resposta imaginária que lhes oferece apenas uma identificação "líquida", alienada. O autor esclarece a saída que o discurso analítico propõe: a identificação ao sinthoma. Na mesma orientação, em "Ainda não realizado" discute-se um caso explorando o arranjo particular da analisanda conforme as indicações clínicas do último ensino de Lacan.

 

O gozo feminino, em sua faceta de devastação ou de pretenso masoquismo feminino, é tema de uma série de outros artigos. Eles discutem, nas parcerias da vida amorosa, formulações de Freud, Lacan e ensinamentos de passe, demonstrando inclusive como, na clínica da histeria, a paranoia normal se apresenta como devastação diante do desejo enigmático da mãe.

 

Noutra direção, um artigo nos convida ao percurso lacaniano da problemática do eu e do corpo, no qual são retomadas formulações sobre o estádio do espelho, o esquema ótico e sua reformulação, quando Lacan pensa a angústia como sinal da presença do objeto a. Em contraponto à angústia, encontramos, em outro texto, a discussão sobre o objeto sublimado, inatingível e interditado, no amor cortês de Lewis Carrol por Alice Liddel.

 

Desejando a todos uma leitura proveitosa desses textos, entregamos este número de final de ano prometendo, desde já, o próximo. Até março de 2012.


Elisa Monteiro